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Biografia Completa de Ao Cubo
O Surgimento de uma Voz na Metrópole (2003)
No início dos anos 2000, a cena do hip-hop brasileiro vivia um momento de efervescência e consolidação. Em meio a esse cenário, na vasta metrópole de São Paulo, quatro jovens com trajetórias distintas, mas unidos pela fé e pelo amor ao rap, decidiram unir seus talentos para criar algo novo. Assim, em 2003, nascia o Ao Cubo, formado por Cleber (vocalista e principal letrista), Dona Kelly (vocalista), Vulgo Feijão (vocalista) e DJ Fjay (DJ e produtor). O nome do grupo, uma referência à terceira potência, simbolizava a trindade de Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) como a base e a força motriz de seu trabalho, elevando a mensagem a um novo patamar.
Desde o início, a proposta do Ao Cubo era clara: fazer um rap com excelência musical e lírica, que não se limitasse a pregar para convertidos, mas que dialogasse com a realidade da periferia, com as dores, os dilemas e as alegrias do ser humano, tudo sob a ótica da fé cristã. Eles queriam ser a trilha sonora da superação, da reflexão e da esperança, sem abrir mão da contundência e da crítica social inerentes à cultura hip-hop.
A Estreia Impactante: “Respire Fundo” (2004)
Menos de um ano após sua formação, o grupo lançou seu primeiro álbum, “Respire Fundo”. O disco chegou ao mercado de forma independente e rapidamente causou um enorme impacto. Com uma sonoridade crua, beats marcantes de DJ Fjay e rimas que mais pareciam crônicas da vida real, o álbum apresentou ao Brasil o talento singular do grupo. A combinação das vozes de Cleber, com seu flow rápido e letras complexas, a energia de Feijão e o contraponto melódico e poderoso de Dona Kelly, criaram uma identidade sonora única.
A Força Narrativa de “Naquela Sala”
Dentro deste primeiro trabalho, uma faixa se destacou de maneira avassaladora: “Naquela Sala”. A música é um dos maiores exemplos do poder do storytelling no rap nacional. Narrando a história de uma jovem que enfrenta o drama de uma gravidez indesejada e a difícil decisão sobre o aborto, a canção emocionou o país. A letra, construída como um diálogo tenso e emotivo, não apenas abordava um tema tabu com sensibilidade, mas também oferecia uma mensagem de redenção e esperança. O sucesso da música foi tão grande que ultrapassou as fronteiras do público gospel, sendo tocada em rádios seculares e se tornando um hino para muitos jovens que se identificaram com o dilema apresentado. “Naquela Sala” não foi apenas um hit; foi um marco que definiu a capacidade do Ao Cubo de transformar testemunhos e questões complexas em arte de alto calibre.
Consolidação e Maturidade: “Entre o Desespero e a Esperança” (2007)
Após o sucesso estrondoso do álbum de estreia, a expectativa para o segundo trabalho era imensa. Em 2007, o grupo lançou “Entre o Desespero e a Esperança”, um álbum que não apenas atendeu, mas superou as expectativas. Com uma produção mais refinada e uma maturidade lírica ainda maior, o disco consolidou o Ao Cubo como uma das principais forças da música brasileira. O título do álbum já indicava a dualidade presente nas letras: a luta constante entre as dificuldades da vida e a fé que impulsiona a continuar.
Neste álbum, destacam-se faixas como:
- “Cicatrizes”: Uma colaboração com o cantor Thalles Roberto, a música se tornou outro grande sucesso do grupo. Com um refrão marcante e uma mensagem universal sobre superação e a beleza das marcas que a vida deixa, a canção tocou profundamente o público e é, até hoje, uma das mais pedidas em seus shows.
- “Mil Desculpas”: Uma reflexão sobre falhas, arrependimento e a busca pelo perdão, mostrando a vulnerabilidade e a humanidade dos artistas.
- “Cinderela”: Outro exemplo de storytelling, abordando a exploração sexual infantil de forma direta e chocante, usando a música como ferramenta de denúncia social.
A Potência Ao Vivo e a Celebração de Uma “Década” (2009-2014)
O Ao Cubo sempre foi conhecido por suas apresentações ao vivo energéticas e emocionantes. Para registrar essa força, em 2009, o grupo gravou seu primeiro DVD, “Um por Todos”, na icônica casa de shows Olympia, em São Paulo. O projeto foi um sucesso, mostrando a sinergia do quarteto no palco e a conexão fervorosa com seus fãs.
Em 2014, para comemorar 10 anos de uma carreira sólida e relevante, lançaram o álbum “Década”. O disco funcionou como uma retrospectiva da jornada do grupo, ao mesmo tempo em que apontava para o futuro. Com participações de nomes como Pregador Luo, Fernandinho e a cantora de MPB Luciana Mello, o álbum mostrou a versatilidade e o respeito que o Ao Cubo conquistou dentro e fora do cenário gospel.
Período de Transição e Novos Projetos (2015-2018)
Após mais de uma década juntos, o grupo passou por sua maior transformação. Em 2015, Dona Kelly e Vulgo Feijão decidiram deixar o Ao Cubo para se dedicarem a projetos pessoais e ministeriais. A separação ocorreu de forma amigável, e Cleber e DJ Fjay decidiram continuar com o projeto como uma dupla. Essa nova fase foi marcada pela assinatura de um contrato com a gravadora Sony Music Gospel, um passo importante que ampliou ainda mais o alcance do trabalho da dupla.
Em 2016, já como um duo, lançaram o álbum “Fôlego”. O trabalho apresentou uma sonoridade modernizada, explorando novas tendências do hip-hop mundial, mas sem perder a essência lírica que sempre caracterizou o grupo. Músicas como “Abraço” e “Tche Gue Die” mostraram que a chama do Ao Cubo continuava acesa e relevante.
O Retorno da Formação Clássica e o Futuro (2019 – atualmente)
Para a alegria dos fãs de longa data, em 2019, o Ao Cubo anunciou o retorno de Dona Kelly e Vulgo Feijão, reunindo a formação clássica que marcou uma geração. O reencontro foi celebrado com o lançamento do álbum “Causa e Efeito” em 2020. O disco reafirmou a química inegável do quarteto, trazendo a maturidade adquirida nas jornadas individuais para fortalecer o coletivo. A sonoridade mesclou o clássico e o contemporâneo, e as letras continuaram a refletir sobre os desafios da sociedade e da fé nos tempos atuais.
Legado e Influência Cultural
O legado do Ao Cubo transcende a música. Eles foram pioneiros em quebrar o preconceito que existia tanto no meio secular contra o rap gospel, quanto no meio religioso contra a cultura hip-hop. Provaram que é possível fazer arte de alta qualidade, com uma mensagem de fé explícita, que seja respeitada e admirada por sua excelência artística. Suas letras, ricas em metáforas, referências bíblicas e crônicas sociais, educaram e inspiraram milhares de jovens a enxergarem o mundo e a fé de uma maneira mais crítica e profunda. Ao Cubo não é apenas um grupo de rap gospel; é uma instituição do hip-hop brasileiro, uma voz poderosa que, elevada à terceira potência, continua a ecoar, transformar vidas e contar as histórias do povo brasileiro com a trilha sonora da esperança.