Quando amanhece o dia lá no meu sertão
Vejo de perto, Deus com sua criação
O sabiá com seu coral começa a festa
E a floresta se transforma em canção
A juriti com o seu bando sai dos ninhos
E os canarinhos colorindo os arvoredos
O galo canta, o sol aponta lá na serra
É Deus mostrando que foi feito com seus dedos
Um bem-te-vi na cominheira do ranchinho
Canta sozinho, com saudade da amada
Que foi levada pelas mãos de um caçador
Deixando a dor no seu peito impregnada
E, de repente, o céu se enche de andorinhas
Pequenininhas, mas preenchem todo o espaço
Notas agudas são as suas melodias
Louvam a Deus com prazer e sem cansaço
E foi assim que Deus criou tudo perfeito
E me deu força no peito pra numa canção mostrar
Como um poeta, violeiro, tocador
Eu mostro que o criador do meu sertão vive a reinar
Ao meio-dia tudo fica em silêncio
Aí eu penso que a festa terminou
Ouço de longe o cantar de uma rolinha
Anunciando que o fogo apagou
A passarada está na sombra aconchegante
Por um instante, pra fugir do sol ardente
E vai rasgando sobre as folhagens da mata
Pra germinar cada grãozinho de semente
No fim da tarde o curió abre o seu bico
Dando um grito que o sol já esfriou
O xororó responde alegre da palhada
E entre as flores brinca alegre o beija-flor
Mas me entristece, no meu peito eu sinto dó
Quando o Jaor decreta noite no sertão
Pego a viola e começo a louvar
Ao grande Autor de toda essa criação
E foi assim que Deus criou tudo perfeito
E me deu força no peito pra numa canção mostrar
Como um poeta, violeiro, tocador
Eu mostro que o criador do meu sertão vive a reinar